segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Meus pés no chão

Por Michelle Andrade
 
Nada de delírios e pensamentos mirabolantes. Pés no chão, pés no chão! Volta e meia me pego falando assim. Talvez seja uma briga diária minha. "É hora de crescer". "Sonhar, mas com maturidade". Tenho um manual de frases prontas,  mantras, o que preferir chamar, que geralmente sigo.Geralmente. Pq tem horas que quero mais é sonhar mesmo,  rasgar fórmulas pré-estabelecidas, sem as limitações tão impostas todos os dias sobre nós (e que nós mesmo estabelecemos). O medo das expectativas frustradas foge da minha mão por um instante e logo volta! Pés no chão, pés no chão! Meus desejos e sonhos voltam a ser projetos, as ações concretas, tudo fica firme de novo, ideal, exato, constante...e um tanto monótono, mais uma vez.

Surge então novamente uma vontade súbita de sonhar. O céu sem limite. Ah meus pés descalços sob as nuvens. Me permito que as certezas me deixem mais uma vez, concedo a mim o direito ao mistério. E então desprendo do chão. Meus pés flutuam, mas ainda não sei, não sei se é isso que quero. Ainda me assusta essa leveza, essa espontaneidade, essa naturalidade tão infantil, tão vital. É um ângulo novo a se encaixar, coisas novas para enxergar. Mas para onde vão me levar? Não há respostas e caminhos legítimos. É a hora de abandonar fórmulas, planejamentos. Nada de resultados definitivos.
 
Deixo me levar, esqueço o friozinho na barriga, que cisma em me pertubar. Desacelero meus pensamentos e repouso o meu olhar. É , eu devia aproveitar. O orgulho da consciência ainda habita em mim. Mas ficar cravada no solo pra sempre? Não dá. Pés no chão, pés no chão! Essa vontade volta a me incomodar.
 
 "O importante é não deixar nunca que o menino morra completamente dentro da gente. Caso contrário, ficamos velhos mais depressa. Dizem que é por isso que os chineses, de incontestável sabedoria, conservam o hábito de soltar papagaio (ou pipa, se preferirem) mesmo depois de adultos. Não sei se é verdade, nunca fui chinês."
(Stanislaw Ponte Preta)