sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Alto


 "Eu não tenho medo de voar. Eu tenho medo de estar fechada num lugar e de ter escolhido estar fechada nesse lugar. Tenho medo porque meus pés sentem o chão mas ele é falso. Meus pés sempre me obrigam a sentir a verdade e eu sou obrigada a dizer a eles que aquele chão não dura e nem é de terra. Tenho medo do absurdo que é sorrir e dizer "guaraná normal e sem gelo, grata" enquanto se quer dizer "que
merda é essa de estar voando se não sou a porra dum passarinho?". Tenho medo porque quando acabar estarei em outro lugar. Agora, se eu pudesse escolher o maior de todos os medos, eu diria "a chance disso cair agora é muito pequena". Estou sobrevoando, sem inteligência, a água profunda que aprendi a chamar de casa mas também de intervalo. A verdadeira angústia de voar é estar acima da nossa vida. Voar é tornar nossa rotina banal. Estou voando há dias, de primeira classe, com vista para o desenho de um país que não sei o nome. Ao lado de uma pessoa que, até que enfim, não é mais uma barrinha de cereal."
(Tati Bernardi)




quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Cheiro de memórias

Por Michelle Andrade

É inevitável
Um cheiro me traz lembranças
Me traz presença
Marca profundamente.

São de tantas maneiras
Me levam a tantos lugares
A tantos momentos.

Parecem não ter fim
E podem não ter mesmo
O cheiro vem, você sente e as memórias saltam...

Qual cheiro te traz lembranças?

Eu fico com esses:

Cheiro de Natal 
Esse me faz ir longe, volto em momentos sem igual.
É a casa da minha avó cheia e os preparativos para a ceia
Aquele aroma só tinha lá, naquela data
Sempre me traz saudade

Cheiro de laranja
É engraçado como a laranja me lembra a minha infância
A casa da minha vó, mais uma vez
As tarde de domingo, eu e ela na cozinha
Eu a observava fazer o suco e aquele cheiro eu amava
Sempre me traz um sorriso

Cheiro da maresia
Esse me leva para as férias de quando criança
E a casa de praia em Itacuruçá
Quantas tardes caminhando e brincando por lá
Sempre me traz felicidade

E o cheiro de terra molhada
É  a chuva que se foi naquela tarde de verão
Tudo parece calmo e tranquilo
O vento bate e eu relaxo
Sempre me traz paz




quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Paciência

 Arnaldo Jabor

"Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados... Muita gente iria gastar boa parte do salário nessa mercadoria tão rara hoje em dia.
 Por muito pouco a madame que parece uma "lady" solta palavrões e berros que lembram as antigas "trabalhadoras do cais"... E o bem comportado executivo?
 O "cavalheiro" se transforma numa "besta selvagem" no trânsito que ele mesmo ajuda a tumultuar...
 Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o jeito do chefe é demais para sua cabeça, a esposa virou uma chata, o marido uma "mala sem alça". Aquela velha amiga uma "alça sem mala", o emprego uma tortura, a escola uma chatice.
 O cinema se arrasta, o teatro nem pensar, até o passeio virou novela.
 Outro dia, vi um jovem reclamando que o banco dele pela internet estava demorando a dar o saldo, eu me lembrei da fila dos bancos e balancei a cabeça, inconformado...
 Vi uma moça abrindo um e-mail com um texto maravilhoso e ela deletou sem sequer ler o título, dizendo que era longo demais.
 Pobres de nós, meninos e meninas sem paciência, sem tempo para a vida, sem tempo para Deus.
 A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta.
 Pergunte para alguém, que você saiba que é "ansioso demais" onde ele quer chegar?
 Qual é a finalidade de sua vida?
 Surpreenda-se com a falta de metas, com o vago de sua resposta.
 E você? Onde você quer chegar?
 Está correndo tanto para quê?
 Por quem?
 Seu coração vai agüentar?
 Se você morrer hoje de infarto agudo do miocárdio o mundo vai parar?
 A empresa que você trabalha vai acabar?
 As pessoas que você ama vão parar?
 Será que você conseguiu ler até aqui?
 Respire... Acalme-se...
 O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia vai completar o seu giro ao redor do sol, com ou sem a sua paciência..."


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Livre-se!

 Da série: textos que me fazem pensar.

Outro dia estava lendo sobre mulheres independentes e fiquei pensando muito nisso. E me veio a pergunta "O que é ser independente afinal?"

Uma das coisas que sempre busquei na minha vida foi ser independente. Sempre vi essa possibilidade como um grito de liberdade,  uma busca interna minha. Eu sempre gostei disso, me faz bem poder contar mais comigo. Me faz bem ser mais livre, mais solta, mais EU.

"Ser independente não é simplesmente ter dinheiro e se sustentar", uma vez me disseram. Ser independente é ser responsável por seus atos. E mais do que isso, não só pelos acertos, pelos erros também. A independência não é completa sem a independência moral e emocional. Pois é isso, a independência é a construção do seu próprio eu, e de seu eu pra os outros. Você deixa de ser só o filho de alguém, o neto daquela pessoa, a namorada dele...vai muito além. Você é VOCÊ, e só.

Um mundo se abre e o enfrentamento dele é inevitável. É a tal realidade nua e crua. Eu sei, muitas vezes pode bater muito medo. O mundo assusta mesmo. Mas ele ta aí e você precisa estar nele. Tem coisa melhor do que um desafio a ser vencido? Vencido mesmo! É, é mais um passo dado para seu desenvolvimento como pessoa, como parte desse todo que vivemos. 

Então vai em frente, seres humanos são como passarinhos, precisam sair do ninho para se tornarem completos e independentes. É natural e muito saudável.


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Por um instante...

Por Michelle Andrade

O tempo que acontece neste momento
Acontece num instante
Trata-se de um pedaço do que se passa
Tá passando
Vai passar
Já passou.

Num instante chega o que queremos
E vai o que precisávamos
Mas só fica o que tinha para ficar
É a ponte que liga o agora e o depois
Onde damos um passo para algo novo.

Pode ser um lugar estreito
Que nos abre portas
É um infinito de coisas
Que em segundos se transforma.

E esse é, nesse instante,
nosso lugar da vida.
Não deixe passar um único instante seu
Pois cada um deles é uma gota de vida
Que não torna a cair.

 "Há instantes em que os homens são senhores do seu destino." (William Shakespeare).



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sobre a leitura

Por Lya Luft

"Nasci com essa paixão, esse encantamento pelas palavras. Quando pequena, repetia para mim mesma as que achava mais bonitas: pareciam caramelos na minha boca. Colecionava mentalmente as mais doces, como translúcido, magnólia, borbulha, libélula, e não sei quais outras. Lembro que por um tempo detestei meu nome curtinho e sem graça: pedia a minha mãe que o trocasse por algo belo como Gardênia, Magnólia, Virgínia. Açucena me fascinou quando o li no meu livro de texto no 1º ano da escola, e quis me chamar assim. Mas eu queria muitas coisas impossíveis.

Eu lia o que me caía nas mãos, desde gibis até complicados volumes que eu não entendia mas pegava na biblioteca de meu pai, e lia achando impressionante ou bonito, misterioso ou triste. Sempre fui de muito ler, não por virtude, mas porque em nossa casa livro era um objeto cotidiano, como o pão e o leite.

O que é preciso é ler. Revista serve, jornal é ótimo, qualquer coisa que nos faça exercitar esse órgão tão esquecido: o cérebro. Lendo a gente aprende até sem sentir, cresce, fica mais poderoso e mais forte como indivíduo, mais integrado no mundo, mais curioso, mais ligado."


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Equilíbrio

Por Michelle Andrade

No peito uma mistura de sentimentos
Entre os sorrisos, uma série de lágrimas
Coração pulsa rápido na batida lenta
Como uma roda gigante
que sobe desce sob o mesmo céu.

Somos um amontoado de recomeços
Cabe muito aqui dentro
Mudamos de gosto,
Opinião
De rumo.

De repente é assim
Tudo fica diferente o tempo todo
E ainda assim continua igual
Tudo é uma maneira de ver
de reconhecer.

Pode ser a hora de mudar
E as vezes não
Um dia termina e outro começa
O sol nasce e se põe
E aqui dentro, tudo fica igual
Mas diferente.



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Um livro...uma indicação


Hoje eu comecei o dia lendo uma matéria na revista Época que me deixou primeiro aos prantos e depois completamente encantanda pela forma como foi escrito aquele texto. E eu não tive como não procurar um pouco mais sobre o assunto e passar aqui para falar dele.

O assunto é bem tocante e um tanto doloroso, que muitas pessoas (oi mãe!) iriam me dizer que no meu "estado", "momento", sei lá, era melhor não ler, mas sabe quando um texto te prende e você não consegue de jeito nenhum parar de ler? (desculpa mãe)...foi isso que aconteceu e eu tava lá em pleno trem, às 8h30 da matina, me debulhando em lágrimas com a história.

Bem, a matéria começava assim: "A duríssima jornada de um pai para trazer de volta o corpo de um filho". Resumidamente, o texto contava todo o sentimento de um pai que foi surpreendido com a pior notícia de sua vida: a morte do filho de 28 anos, que estava em Londres e tinha morrido de infarto, sozinho no quarto do hotel. De forma maestral, ele contou todo o processo que viveu:  do reencontro com a família (ele é separado) e seus outros dois filhos, o dia que contou para sua mãe (a avó que perdia um neto) até o fim da viagem em que ele teria que reconhecer o corpo de um filho e trazê-lo de volta para o seu último adeus.

A história faz parte de um livro que ele mesmo escreveu (o pai, jornalista e personagem da história) e que eu faço questão de divulgar aqui, pq apesar da história ser muito triste, isso é um fato, ele conseguiu descrever e relatar da maneira mais bonita, inteligente e cativante toda a sua dor e aprendizado que teve durante o momento mais difidil de sua vida. Vale uma recomendação.



Esta é a segunda edição e contém os mesmos capítulos da edição anterior, com algumas atualizações e 11 capítulos novos.


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

E não é que dá medo!?

 Por Michelle Andrade

Atire a primeira pedra quem nunca sentiu medo. Medo de escuro, medo de altura, de ficar sozinho,  de prova, de chuva...Qualquer coisa! Algo que te fez recuar, repensar e até mesmo arrepiar. O medo é um pensamento em nossas mentes. As vezes ele se torna tão abstrato, que mal se pode explicar.

Tem o medo do desconhecido. Mas porque será que tudo que é novo nos causa tanto medo? A dúvida que vem com a mudança sempre nos surpreende. É quando a segurança dá lugar ao temor. E nos faz sentir ansiedade diante daquilo que ainda não conhecemos, não experimentamos. Aí dá um medo e que medo!

Mas é natural que uma experiência ainda não vivida nos mobilize tanto internamente. Porém não devem ser necessariamente enfrentadas como difíceis e assustadoras sempre. Ou pelo menos deveriam. Mas sem respostas prontas e nada de receitas, o medo persiste a nos perturbar. As perguntas surgem e as repostas nos faltam. Não se sabemos como agir e nem o que pensar. E o medo volta a assombrar.

Outro dia li que cada novo desafio precisa ser enfrentado com a disposição interior de que se encontrará o caminho mais certo a seguir. Mas isso exige uma mudança no nosso padrão usual de reação, deixando de lado esse medo para abrir lugar para o otimismo e a confiança. Gostei e anotei.

Talvez o melhor mesmo é não deixar o medo se instalar. E se ele insistir em aparecer, tente não se deixar levar. O importante é seguir a intuição e o coração, pois eles são sempre os conselheiros mais certos quando as crenças negativas insistem em nos paralisar. O negócio é sempre acreditar em nossa capacidade de vencer todos os obstáculos para avançarmos em direção ao novo sem qualquer receio. Sem qualquer devaneio.